Lessons Unlearned by Stone: Opaqueness and Suspension
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100 • Cycles
[versão em português]
Numa busca por novos sentidos as coisas e discursos ao seu redor, buscando rotas de fuga dos desastres iminentes, nos voltamos para ouvir a voz daquilo que não expressa enunciado algum: retornamos a pedra, e buscamos nela um retorno as coisas em um estado bruto.
Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, frequentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições da pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.
Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.
Diz o ditado popular: Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
No entanto, o recado do poeta é claro: A pedra por si só não traça para nós caminho algum. Sua voz nada ensina, e se fosse possível falar, nada ensinaria.
De fora para dentro, é inaudível. De dentro pra fora, imutável.
Daquilo que é sólido (from all that is solid), nada vamos apreender.
Cristais minerais agregados através de alta pressão e calor carregam nas camadas da sua carnadura uma soma do tempo e da geografia, isto é, uma topologia interna.
Como manipuladores da natureza, não cabe a nós circular por essa paisagem interna. A opacidade de sua superfície não nos permite enxergar os ciclos que particular minerais atravessaram para chegarem até tal estado solido.
Como trocar a destruição do ato de extrair algo do seu meio pelo diálogo com aquilo que é opaco?
É possível algo além de desmembrá-la, detoná-la em infinitas particulas e fazer da pedra pó?
Quais outras relações entre corpo-matéria, corpo-ambiente, corpo-minério pode-se imaginar?
Torno então da porosidade da pedra, eu poroso também.
Para se alcançar uma isostasia posso eu também me abrir à pedra?
Dizem que “)sticks and stones may break my bones_” e assim, de cada contato com a pedra opaca, sou eu quem me abro. Mostro a ela as minhas paisagens internas, sou dissecado em camadas e cada camada, separada em suas partículas.
Mas como a alma pode ser penetrada se sempre que corpo e pedra se tocam, as nossas naturezas concretas se batem?
A lição está na suspensão.
Como ensina Lygia Clark na obra Pedra e Ar (Stone and Air, 1966), um caminho possível é buscar num sopro e em uma respiração suspender o seu peso, aliviar da pedra a necessidade de friccioná-la para que ela seja alterada e mesmo com sua densidade, desvencilhar-se da gravidade.
É como se mesmo num instante fosse possível que as nossas fronteiras e limites fossem dissolvidos e assim se criar uma passagem simbólica a um novo lugar.
Exercitar a possibilidade de se colocar em um momento de instabilidade, não-erosiva.
Mesmo que brevemente, poder manipulá-la, percebê-la de uma nova maneira e em novos sentidos, sem atravessá-la ou extrair dela qualquer coisa que não contato/diálogo
Não desejo atravessar nenhuma das pedras do meu caminho, mas vejo que também não posso me deixar ser atravessado por ela.
[english translation]
In search for new meanings for things and discourses around them, looking for escape routes from the impending disasters, we turn to listen to the voice of that which does not express any enunciation: we return to the stone, and look to it for a return to things in their raw state.
An education by stone: lesson by lesson; learning from the stone by going to its school, grasping its impersonal, unstressed voice (it begins its classes with one in diction). The lesson in morals — its cold resistance to what flows and to flowing, to being molded; a lesson in poetics — its concrete flesh; another in economics — its compact weight: lessons from the stone (from the outside in, a speechless primer) to learn how to spell it.
Another education by stone: in the backlands
(from the inside out, and pre-didactic).
In the backlands the stone does not give lessons,
and if it gave them, nothing would be taught;
there the stone is not something you learn
but is a stone from birth,
penetrating the soul.
(translation: Richard Zenith)
The popular saying goes: Soft water on hard stone hits until it bores a hole.
However, the poet’s message is clear: The stone on its own doesn’t chart any path for us. Its voice does not enunciate anything, and even if it could speak, it would teach us nothing.
From the outside in, it is inaudible. From the inside out, it is immutable.
We will learn nothing from what is solid.
Mineral crystals aggregated through high pressure and heat carry in the layers of their flesh a sum of time and geography, in other words, an internal topology.
As manipulators of nature, it is not up to us to move around this internal landscape. The opacity of its surface does not allow us to see the cycles that particular minerals have gone through to reach such a solid state.
How can the destruction of extracting something from its environment be replaced by a dialog with what is opaque?
Is it possible to do something other than dismember it, detonate it into infinite particles, and turn the stone into dust?
What other relationships between body-matter, body-environment, body-ore can be imagined?
I then turn to become as porous as the stone, with its own porosity.
In order to achieve isostasy, can I also open myself up to the stone?
They say that “sticks and stones may break my bones” and so, with each contact with the opaque stone, it is I who opens up. I show it my inner landscapes, I am dissected into layers and each layer separated into its particles.
But how can the soul be penetrated if every time body and stone touch, nothing more than our concrete natures collide?
The lesson is in suspension.
As Lygia Clark teaches in her work Pedra e Ar (‘Stone and Air’, 1966), a possible path is to seek in a breath and in a puff of air to suspend its weight, to relieve the stone of the need to rub it in order for it to be altered, and even with its density, to break free from gravity.
It’s as if even in an instant it were possible for our borders and limits to be dissolved and thus create a symbolic passage to a new place.
To exercise the possibility of placing oneself in a moment of instability, non-erosive, and non-exploitative, not bound by the inevitability of gravity.
Even briefly, to be able to manipulate it, to perceive it in a new way and in new senses, without going through it or extracting from it anything other than contact/dialogue.
I don’t want to cross any of the stones in my path, but I see that I can’t let myself be crossed by them either.